sábado, 28 de julho de 2018

Oração...

Acredito (desde sempre) que ajoelhar e orar (seja para quem for) é um ritual importante... Seja pra agradecer, pedir algum conforto ou, apenas pra conversar quando não existe mais ninguém por perto... E enquanto a gente ora, creio, que ficamos, ao menos naquele espaço de tempo, seguros de males que não conseguimos ver a olho nu... Numa das minhas orações recentes vi esta imagem, assim, esta composição, com estas cores... Ela me foi apresentada de forma recorrente, num momento complicado... então achei válido reproduzir isso numa ilustração... já que, de muitas formas, é assim que me sinto quando oro todo dia pela manhã, à noite e ocasionalmente em algumas tarde de aflição...
Proteção é sempre bom, sentir-se protegido é ótimo... que mais pessoas possam se sentir assim


Paz à todos

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Nota de Despedida



Por Bertho Horn

A você... e aos demais.
Vamos falar de uma parte de mim. A parte maior que não partiu ainda. Esta que está aqui agora e lá longe também.
Minha história é manca, deficiente e debilitada.
Quando não são com elas mesmas, pessoas amam a desgraça. Gostam de sorrir e acenar pra ela, como uma miss Sempre Inverno. Que inferno. Vamos falar pra esta parte que ouve tantas vezes por tantas vozes a mesma mentira, o mesmo “tudo vai ficar bem” de tantas gentes de brancos dentes. Às vezes só há um jeito de se escapar. E você deseja. Do que os outros dizem e do que você cansa de repetir pra si mesma. De tantos jeitos.
Eu, em segredo, enfio agulhas nas minhas veias. Elas doem. As veias. Os caminhos que o aço inoxidável percorre dentro de mim. Eu os sinto. Viajando. Nenhuma delas ainda chegou ao seu destino. Na grande casa, prisão ou orfanato onde residem todos os sentimentos que ninguém mais precisa. Ou quer. Ou deseja. Sim. É verdade. O orfanato. A prisão. E as agulhas.
Meu pai não quis ser meu.
Minhas amantes não almejaram ser minhas.
Meu filho, este... ele não me avisou quando se retirou. Pra ele eu era um inconveniente. Pra mim, poderia ter sido a descida do vagão. Poderia ter sido aquele que mais amei. Minha redenção, minha salvação, sabe. A parte. A chance de eu poder ser alguma outra coisa melhor que isto aqui. Esta caixa de carne, lágrima, saliva, suor, merda, mijo e autoestradas de sangue e pus cheias de agulhas e sentimentos deficientes, escoriados, mutilados, órfãos.
Vocês não sabem o que é a Dor. Não sabem como dói saber que as melhores coisas que você poderia querer nunca serão escolhidas por você, mas sempre por outra pessoa. Parece que outra pessoa sempre viverá os acontecimentos que você sonhou pra si mesmo. E temos esta ilusão estúpida de sermos nós o centro de tudo. Nunca estamos no centro de nada. No máximo somos um filtro já sujo e velho demais de toda esta latrina. Localizados entre o passado mofado e o futuro cheirando a cândida. Juntamos os dejetos descarregados dia-a-dia sobre nós. E somos nosso próprio genocida particular.
Nada passa na traqueia trancada, espremida entre ânsia e asma. Ninguém nunca nos explicou de verdade o “e se não ficar bem?”. O que devemos fazer quando “não está tudo bem”? Quando o trem continua andando, enquanto nós queremos desesperadamente descer, o que devemos fazer? O que devemos fazer quando nossa redenção é negada? O que fazer com toda esta experiência e chorume herdados ao longo dos dias? O que fazer quando não resta mais NADA a se fazer? E se o drama for algo que se herda como os olhos azuis e o cabelo enrolado?
Estamos deliciosamente perdidos e perdidamente equivocados. Esperamos por tanto tempo as mentiras se tornarem verdades, que abrimos mão de sermos o que deveríamos ser pra nos tornarmos outras coisas. Nos distanciamos tanto. Tanto. Tanto, ao ponto de rirmos e nos deleitarmos quando alguém surge e diz todas as verdades, nossas verdades, aquelas todas que um dia deveríamos ter dito.
É estranho querer afagar o rosto mais lindo que eu nunca vou conhecer de verdade. Isso é passado. E o passado é um espectro com olhos de abismo. E enquanto isso, as agulhas seguem seu curso. Mais uma está a caminho. Dói. De verdade. Como a falta. Como não ter umbigo. Como não ter descido. Como ter mentido. E por ter, tanto tempo, esperado.
O que você faria? Aqui, no meu lugar?
Este é o fim.
Um deles.
O que vai iniciar de vez todas as outras coisas.
Além.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Debaixo da Cama






















Debaixo da Cama talvez seja o projeto mais pessoal, estranho e contundente sobre mim nestes últimos anos... 20 imagens dialogando, se digladiando, se misturando para compor um único sentimento...
Definitivamente um ponto final num capítulo confuso e escuro na minha vida

No livro, as ilustrações impressas em papel vegetal transparente, vão se sobrepor, entrar no espaço uma da outra e incluir mais profundidade e detalhes, tornando a experiência de ler muito mais visceral